No outro dia, o Tiago (decorem este nome, vou falar nele muitas vezes), mandou-me uma mensagem para o Instagram. Eu sou uma distração para ele. Sempre fui. Ele namora com uma loira. Gira, ela. Nunca namorámos, mas fomos apaixonados um pelo o outro, durante décadas. Talvez, ainda sejamos.
A mensagem perguntava o seguinte: queres ficar com os sapatos da minha mãe? Calças o 37, não é?
Nada do que vos conto aqui é mentira.
Existem vidas tiradas dos romances. A minha vida é um bad romance. O título seria Traitor. As pessoas duvidam dos romances porque nunca viveram uma paixão com' O Monte dos Ventos Uivantes. Nunca prendi corpos na cave. Amei alguém como ferida exposta. Sol na cabeça, costas com escaldão de verão, unhas lascadas. Com ódio.
Voltemos ao Tiago.
A mãe dele morreu este ano. Ele está a mudar de casa. Não vai para muito longe, nem sei se agradeço. Vivemos praticamente na mesma rua. Conheço o Tiago desde que vim viver para cá. Gosto do Tiago desde que o conheço. Sabem o Rony, do Harry Potter? É parecido, em adulto. Não estou apaixonada por ele, já estive. Várias vezes.
Eu fiquei perturbada com a mensagem. Isso não me impediu de aceitar. Sabia que a mãe dele era viciada em compras. Podia muito bem ter sapatos novos. E o que faz um homem oferecer os sapatos da sua mãe a outra mulher? Parece-me extremamente simbólico. Um filme Disney, Cinderela e o sapato de cristal. No meio das caixas, estavam uns sapatos de salto alto, brancos.
Fiquei ansiosa quando o vi. Talvez uma despedida. Somos amigos há uma série de anos e estamos sempre desencontrados. Sempre nisto, namoras tu, namoro eu e nunca estamos livres um para o outro. Estamos sempre a despedirmos. Borboletas, luzes verdes e brancas, em noites prateadas. Eu sei que estaremos no final. E aí, calçarei os sapatos, na nossa despedida. Na última dança.
Estou aqui, estou a enviar-lhe o link deste blog. Não faças isso.